Pré-câncer de colo de útero

Nas ruas, para exigir respostas à suspeita de fraude nos exames

Chuva não impediu e mulheres realizaram ato para marcar um ano da denúncia em Pelotas

Carlos Queiroz -

Silêncio. Expressões de respeito. Uma exigência: respostas concretas para a suspeita de fraude nos exames de pré-câncer de colo de útero. Integrantes da Mobilização Pela Vida das Mulheres Pelotenses (MOB) foram às ruas no final da tarde deste 12 de julho, que marca um ano da denúncia pública. Em caminhada, mesmo com chuva, elas fizeram questão de reforçar duas reivindicações ao Executivo: um mutirão para todas as mulheres em idade preventiva - que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) - poderem fazer o citopatológico e a contratação de laboratório tipo II, encarregado de monitorar a qualidade do trabalho da empresa responsável pelas análises; exatamente como prevê a portaria federal 3.388.

Um rastro de cartazes colados ao chão com pingos simbólicos de sangue, do Calçadão da Andrade Neves com Voluntários da Pátria até o prédio da prefeitura, enfatizava o apelo. Distribuição de panfletos e faixas com os nomes das três pacientes que morreram, vítimas dos exames que teriam resultados falsos-negativos, foram utilizadas para chamar a atenção da comunidade. Não nos calaremos! Por Greice Dóro, Emanuele da Silva e Ieda de Ávila e por todas as mulheres que ficaram ou ainda ficarão doentes. Foi um dos recados deixados nesta sexta-feira.

Para finalizar o ato, em frente à prefeitura, uma série de velas foram acesas. Mais uma vez, em silêncio. Em respeito.

Desabafo e emoção
Impossível conter o choro. A jovem Tainã de Ávila Lessa, 25, emociona-se ao conversar com o Diário Popular. Como porta-voz dos dez filhos e 23 netos de Ieda de Ávila, de 54 anos, cobra justiça. "Para eles, nada aconteceu. Ficou tudo igual. A gente é que sente falta. Meu filho segue perguntando pela vó", desabafa.

E faz questão de ressaltar: Ieda sempre se preocupou em investir em prevenção; estava sempre com o citopatológico em dia. Nada que tenha evitado de a doença ser diagnosticada em estágio avançado.

Entenda melhor
A denúncia de uma possível padronização no resultado dos exames tomou como base documento entregue por profissionais da Unidade Básica de Saúde (UBS) Bom Jesus à prefeitura, em janeiro de 2016. No material, médicos e enfermeiros apontavam que há dois anos os laudos dos citopatológicos - analisados pelo Serviço Especializado de Ginecologia (SEG) Ltda, de Pelotas - não indicavam alterações nem havia ressalvas de material mal coletado. Questiona-se, principalmente, a competência do laboratório contratado para análise das lâminas - alertava o documento que acabou chegando à imprensa. Não raro, havia descompasso entre os resultados e os exames ginecológicos nas pacientes; asseguram.

De julho de 2018 para cá foi desencadeada uma série de medidas, mas praticamente todas elas seguem sem respostas. O Instituto Geral de Perícias (IGP), em Porto Alegre, irá reanalisar um total de 589 lâminas; 489 da UBS Bom Jesus. O período da checagem gera críticas. O material é de janeiro de 2017 a junho de 2018. O alerta feito pela equipe da UBS refere-se aos anos de 2014 e de 2015, que ficaram de fora. O inquérito do Ministério Público (MP) também segue em aberto. A Sindicância da prefeitura está suspensa, à espera de prova técnica. O Ministério da Saúde verifica quais medidas serão adotadas a partir de apontamentos levantados pelo Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus), como a falta de avaliação anual da Secretaria de Saúde de Pelotas para monitorar a qualidade do trabalho do SEG e o desaparecimento de lâminas.

Enquanto isso, um ano depois, as mulheres têm demorado, no mínimo, dois meses para ter acesso ao resultado do pré-câncer. O novo laboratório - Serviço Especializado de Ginecologia (SEG) S/S de Porto Alegre -, que atuará pelo menos até o final de 2019, descumpre as regras do edital e, ao invés de entregar os exames em um prazo de sete a dez dias, leva mais de dois meses para disponibilizá-los.

A posição da prefeitura
A Secretaria de Saúde garante que a entrega dos exames será normalizada até o final deste mês. A contratação do laboratório tipo II também será atendida - assegura o secretário Leandro Thurow. Dependeria de contratação a ser feita pelo Governo do Estado.

A prefeitura argumenta que, desde o surgimento das suspeitas, o número de servidores dobrou no departamento de Saúde da Mulher e chegou a dez profissionais. Ações de controle sobre as lâminas, antes do encaminhamento ao laboratório, passaram a ser desencadeadas. Tudo para evitar que situações registradas em material apreendido no SEG Ltda voltem a ocorrer: lâminas sem identificação e em mau estado de conservação; a ponto de a reanálise ser inviável.

 

 

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